domingo, 2 de outubro de 2011

Educação Física

ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA PREVENÇÃO DA LOMBALGIA.


Rafael Morais Bickel [1] 
Mauro José de Souza [2]


Resumo

O presente estudo surgiu a partir da necessidade de analisar a maneira como os profissionais de Educação Física atuantes nas academias de Uberlândia tratam o aluno com dor lombar, freqüentes nos programas de atividade física constantes deste local. Para atender a estes interesses, este artigo objetivou investigar o conhecimento dos professores que atuam nas academias de Uberlândia acerca da lombalgia, bem como identificar os fatores que interferem na instabilidade lombar do indivíduo que freqüenta estes locais. Constituíram a amostragem desta pesquisa, 12 professores os quais trabalham em academias situadas na região central de Uberlândia. A estes foi aplicado um questionário misto sobre a temática. Os resultados apontaram para o fato de que, em sua maioria, os professores não demonstraram conhecimento satisfatório para avaliar e prescrever atividade física específica para a estabilização da região lombar.
Partindo do pressuposto de que a literatura especializada aponta que cerca de 80% dos brasileiros possuem problemas relacionados com a dor lombar, este estudo demonstrou a necessidade de um repensar a prática pedagógica desses profissionais.
 

Palavras-chave: Educação Física, Lombalgia, Estabilização segmentar vertebral
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INTRODUÇÃO



         Este artigo teve como temática a Atuação do Profissional de Educação Física na Prevenção da Lombalgia. A instabilidade lombar é apontada como causa primária e secundária da dor lombar, sendo este o fator que leva ao aumento da mobilidade do segmento vertebral, discopatias, sobrecarga e compressão de raízes nervosas (BISSCHOP, 2003).

           A lombalgia é um distúrbio que acomete cerca de 80 % da população do Brasil em algum momento da vida, sendo uma das causas mais comuns a gerar a procura por consulta médica (Cox, 2002). Este é um problema que pode se manifestar em qualquer pessoa, criando transtornos bio-psico-sociais por provocar dor, o que induz a uma redução da capacidade para o trabalho, atividades de vida diárias, e alterações emocionais. Por isso, a lombalgia se tornou, nesses últimos anos, uma das patologias mais presentes no nosso cotidiano (Rene Calliet, 2002).

           Em consulta à literatura especializada no assunto, notamos que existem vários trabalhos que retratam esta temática, porém nenhum associado a importância da atuação do profissional de Educação Física na prevenção de lombalgia. Acreditamos que esta intervenção específica deva ser diagnosticada e mapeada, pois é fundamental para um trabalho qualificado envolvendo a lombalgia, seja na prevenção ou mesmo na reabilitação de pessoas, cujo quadro já esteja manifestado. A não observância desta qualificação profissional no ambiente não formal, pode ocasionar um certo desconforto em academias onde os alunos vão embora mais cedo ou até param de “malhar” por falta de profissionais qualificados os quais conheçam e ofereçam um protocolo de exercícios específicos de estabilização lombar, fortalecendo os músculos transverso do abdome e multífido lombar, conforme preconiza a literatura especializada.

          É importante que o profissional de Educação Física atente às especificidades dos exercícios, criando estratégias para graduar as forças compressivas impostas pelos exercícios, incluindo também um número maior de exercícios estabilizadores em suas séries de treinamentos. Do exposto até aqui, pode-se concluir que programas de exercício com características específicas podem e devem ser desenvolvidos para que um indivíduo com lombalgia tenha um ótimo retorno as suas capacidades funcionais. É importante a atualização constante do profissional de Educação Física para que este atendimento seja feito com a melhor qualidade possível e para que ele possa atuar em equipes multidisciplinares implantando escolas de postura em serviços educacionais e de saúde (McGill, 2003). Acreditamos que uma atuação adequada por parte do profissional de Educação Física pode proporcionar grandes benefícios relacionados à diminuição da dor lombar, melhoria da capacidade geral para o trabalho e atividades diárias de cada indivíduo.

         Imersos nesta realidade, nos perguntamos: Como tem sido as práticas dos profissionais de Educação Física no interior das academias, com relação à uma correta explicação e prescrição de exercícios de estabilização segmentar vertebral? Esses profissionais tem conseguido atualizar seus conhecimentos nesta área? Tem conseguido diagnosticar possíveis lombalgias em seus alunos? Possuem conhecimento adequado para orientar as práticas corporais de seus alunos no tocante à dor lombar? A partir de uma análise empírica sobre a realidade que se apresenta no contexto das academias, percebemos que nem sempre ela tem se mostrado satisfatória, pois, convivendo diuturnamente com pessoas e profissionais que atuam neste contexto, constatamos que nem sempre existe o conhecimento necessário por parte dos profissionais atuantes, nem tampouco dos alunos, os quais desconhecem o “problema” e também a causa, se atentando para o fato apenas quando do aparecimento de sua sintomatologia. Acreditamos que muitos profissionais, embora tenham conhecimento sobre prescrição de exercícios, saibam realizar avaliações diagnósticas e formativas com seus alunos, ainda carecem de um conhecimento sobre esta temática que se coloca em questão. Entendemos que os espaços como academias de ginástica e musculação são locais propícios para o desenvolvimento da dor lombar, quando não existe uma correta orientação sobre a prática e execução dos exercícios propostos. Sendo assim, a atuação consciente e correta do profissional torna-se de fundamental importância para assegurar a melhor eficiência da atividade física na vida de cada indivíduo. Acreditamos que este trabalho poderá nos trazer subsídios para entender melhor esta problemática. Para tanto, objetivamos investigar a importância do profissional de Educação Física na prevenção de lombalgia. Especificamente pretendemos avaliar os benefícios dos exercícios relacionados ao exercício de Estabilização Segmentar Vertebral na lombalgia; identificar fatores que interferem na instabilidade lombar do indivíduo que leva à lombalgia; verificar a eficácia dos exercícios relacionados ao exercício de Estabilização Segmentar Vertebral na prevenção da lombalgia, e por fim, verificar o grau do conhecimento do profissional de Educação Física sobre a importância dos músculos transverso do abdome e multífido lombar no controle da estabilização da coluna vertebral.


ESTABILIZAÇÃO SEGMENTAR VERTEBRAL

         De acordo com a literatura especializada, os exercícios de estabilização segmentar vertebral tem como benefícios a capacidade de manter a coluna em posição neutra, dentro dos limites fisiológicos, sem déficit neurológico, deformidade ou dor incapacitante, gerando um estado de equilíbrio muscular e esquelético que protege as estruturas de sustentação do corpo contra lesões ou as deformidades progressivas, independente do qual essas estruturas estão trabalhando ou repousando. Nessas condições os músculos funcionam mais eficientemente e as posições ótimas são proporcionadas para os órgãos torácicos e abdominais. (HALL E BRODY, 2001, p. 130).

     Um dos fatores que interferem na instabilidade segmentar lombar do indívíduo que leva a lombalgia é uma frouxidão ao redor da posição neutra do segmento vertebral chamado de “zona neutra”. A zona neutra é uma importante medida de estabilidade das vértebras. Isto pode ser influenciado pelo sistema passivo (vértebras, discos intervertebrais, articulação zigoapofisária e ligamentos), sistema ativo (músculo e tendões que atuam no pilar vertebral) e sistema neural que direciona e controla o sistema ativo para suprir a estabilização dinâmica (O´SULLIVAN, 2000, P.02-12).

      Os músculos do tronco foram classificados em dois sistemas musculares: sistema muscular global e sistema muscular local, que atuam na manutenção da estabilidade vertebral. O sistema muscular local inclui os músculos profundos e algumas porções profundas de músculos que tem suas origens ou inserções na vértebra lombar, sendo eles: multífido, psoas maior, quadrado lombar, parte lombar do iliocostal, longuíssimo, transverso abdominal, diafragma e fibras posteriores do oblíquo interno. O sistema muscular global são músculos superficiais ligados ao tronco que não são diretamente ligados a vértebras e cruzam múltiplos segmentos, sendo eles: reto abdominal, oblíquo externo e parte torácica do iliocostal lombar (O´SULLIVAN, 2000, P.02-12).

      Esses dois sistemas trabalham de forma diferente, mas devem atuar de forma coordenada para proporcionar estabilização segmentar lombar. No caso de lombalgia isto não ocorre. (MAHER, 2005, P. 01-08)

     A lombalgia crônica para Arokoski et al. está associada a mudanças histomorfológicas e a estruturas nos músculos paraespinhais, que, por serem menores, contém mais gordura, e mostram atrofia. Conseqüentemente, os músculos paraespinhais são fracos e exibem fadigabilidade. Esta mudança é conseqüente ao descondicionamento secundário à dor. (AROKOSKI, J. P.; VALTA T.; AIRAKSINEM, O.; KANKAANPÄÄ, 2001, 1089-1098).

      Maher et al.descrevem que pessoas com lombalgia possuem mudanças na estratégia do controle motor do tronco durante a atividade dos músculos profundos que estão prejudicados e atrofiados. Além disso, todos os músculos profundos contribuem para controlar o movimento e estabilidade da coluna, mostram também controle intervertebral, mas com vantagem dinâmica no controle vertebral. Os autores também relatam que pessoas com dor lombar adotam posturas para aumentar a rigidez e estabilidade a custas das funções vertebrais. Há evidências que o multífido e os abdominais profundos estão afetados na lombalgia, pois ocorre perda generalizada da força e descondicionamento, afetando o ritmo dos modelos de co-contração (MAHER, 2005, P. 01-08)

      O sistema muscular local é essencial para prover estabilidade, mas não é suficiente se os músculos forem ineficazes para controle vertebral (RICHARDISON, HODGES, HIDES, 2004, p.101-110).

     O músculo multífido, o qual é ligado vértebra a vértebra, é o principal exemplo muscular do sistema local, tendo em sua composição maior concentração de fibra do tipo I. (RICHARDISON, HODGES, HIDES, 2004, p.101-110), (AROKOSKI, J. P.; VALTA T.; AIRAKSINEM, O.; KANKAANPÄÄ, 2001, 1089-1098).

    O músculo multífido cobre a superfície do sacro, dirigindo-se para cima e para dentro para se inserir nos processos espinhosos das vértebras lombares e sacrais, preenchendo os canais entre os ossos do sacro e dos ossos ilíacos, assim como entre os processos espinhosos e transversais da coluna lombar. Portanto, as partes moles ao longo da área paraverterbral são formadas principalmente pela massa do músculo multífido, impossibilitando praticamente a palpação dos processos transversais das vértebras lombares. A principal função do músculo multífido é controlar a flexão e a ação tangencial sobre a coluna durante a inclinação do tronco para frente, devido sua concentração excêntrica. Ele pouco contribui para os movimentos de rotação, mas sua atividade durante a rotação compensa as forças de flexão criadas pelos músculos abdominais; sendo esses os principais músculos encarregados da rotação do tronco. Também exerce pressão sobre a coluna lombar, contribuindo, desta forma, para estabilidade da coluna (SAHRMANN, 2005, p. 65-74).

     Os pequenos músculos intersegmentares, tais como: intertransversal e interespinhais, não predominam como estabilizadores mecânicos, mas sim com função proprioceptiva. Na região lombar propõe-se que o multífido contribui para estabilização da vértebra, via controle da lordose, o que permite uma distribuição de forças iguais (RICHARDISON, HODGES, HIDES, 2004, p.101-110) .

    O músculo quadrado lombar tem seu tamanho consideravelmente inferior aos dos extensores da coluna, porém desempenha importante papel na motilidade lombopélvica, devido ao seu local de inserção, e contribui principalmente para a estabilização da coluna. Por sua contração excêntrica, o músculo quadrado lombar controla a flexão lateral para o lado oposto, enquanto a contração concêntrica favorece o controle sobre o retorno após a flexão lateral (SAHRMANN, 2005, p. 65-74).

     A contração do músculo transverso abdominal contribui para estabilizar a coluna lombar por sua inserção na    fáscia toracolombar. O músculo transverso abdominal é o primeiro músculo da parede abdominal a ser ativado para estabilização postural na posição ereta .Segundo Hodges (apud Sahrmann) [25] um atraso na atividade do músculo transverso pode desempenhar algum papel na disfunção da coluna lombossacral no paciente que apresenta dores nesta região. (RICHARDISON, HODGES, HIDES, 2004, p.101-110).

    Essa atividade atrasada pode ser a causa da estabilização inadequada da coluna lombar durante os movimentos dos membros superiores. (SAHRMANN, 2005, p. 65-74)

    Outra estrutura que pode contribuir para estabilização lombar é a fáscia toracolombar. A fáscia toracolombar é um tecido forte, com fibras de colágeno bem desenvolvidas, que contém corpos de Ruffini e Pacini associados com inervação difusa. Isto é importante para mostrar que o sistema músculo fascial, que protege a região lombossacral, tem influência dos músculos na tensão das fáscias o que é vitalmente importante .É evidente que a fáscia toracolombar, através da conexão muscular, contribui para o aumento da rigidez lombar e estabilização lombar, atuando também com papel proprioceptivo (RICHARDISON, HODGES, HIDES, 2004, p.101-110).

    A intensa atividade dos músculos globais é associada com aumento de carga vertebral, o que pode contribuir para agravar a lombalgia (AROKOSKI, 2001, 1089-1098).

     Em seguida foi possível identificar o grau de eficiência dos exercícios relacionados ao método de estabilização segmentar vertebral na prevenção da lombalgia descrevendo a forma de atuação:

     Para Richardson o treinamento de estabilização segmentar é uma técnica baseada nos princípios de prevenção e tratamento desenvolvidos pelo conhecimento do complexo neurofisiológico, que envolve a proteção articular e o desenvolvimento dos sintomas dolorosos, tendo resultados nos exercícios de estabilização segmentar. (RICHARDISON, HODGES, HIDES, 2004, p.101-110).

      Maher et al.descrevem que os exercícios do controle motor devem treinar a musculatura profunda isoladamente antes de progredir para tarefas que treinam coordenação dos músculos profundos e superficiais. Explica também que este treinamento pode ser de difícil execução para o paciente. Este recurso necessita que o Educador Físico ensine, com a palpação e observação, como contrair os músculos desejados para melhor compreensão do aluno. Registros confirmam que a coordenação dos músculos abdominais pode ser restaurada com treinos específicos, mas não com simples ativação durante atividades como sentar e levantar [17]. (MAHER, 2005, P. 01-08)

       Já para O’Sullivan a conduta no tratamento da lombalgia crônica tem sido baseada em treinamento muscular específico. São considerados estabilizadores dinâmicos e controlador segmentar vertebral, por exemplo, os seguintes músculos: transverso abdominal, diafragma e multífido lombar, baseado na identificação dos déficits de controle motor destes. Esta técnica é baseada em um modelo de aprendizado motor focalizado nas falhas dos padrões; os componentes do movimento são isolados e reeducados dentro de tarefas específicas de cada paciente. Este modelo de treinamento mostrou-se efetivo com redução da dor e desordem funcional em indivíduos com lombalgia crônica com um diagnóstico de instabilidade segmentar lombar. (O´SULLIVAN, 2000, P.02-12)

      Diferentes modelos de tratamento têm sido propostos para pacientes com LBG, mas nenhum método parece ser mais efetivo que outro (LEWIS, 2004, 711 – 721).

     Todavia, sabe-se que exercícios específicos em transverso do abdômen e multífido têm mostrado diminuição da dor em pacientes com lombalgia (RICHARDSON, 1995; 2 – 10).

     Arokoski realizou um experimento e mostrou que os músculos extensores do tronco podem ser ativados em diversas posições. A melhor ativação do multífido lombar foi em posição de decúbito ventral com extensão bilateral de membros inferiores, podendo agravar a LBG. Deve-se lembrar que o multífido precisa ser treinado com 25% da contração máxima voluntária para aumentar sua resistência à fadiga. Exercícios em posição ereta com auxílio de halteres nas mãos podem influenciar a ativação dos músculos estabilizadores do tronco. O exercício em posição ereta com extensão de membros superiores contra resistência provoca ativação dos abdominais. O oblíquo interno pode ser ativado em exercício de ponte com os membros inferiores sob uma bola. Assim, vários exercícios específicos podem ser utilizados para obter estabilização segmentar. (AROKOSKI, J. P.; VALTA T.; AIRAKSINEM, O.; KANKAANPÄÄ, 2001, 1089-1098).

      Danneels et al. [5] com estudos eletromiográficos utilizando exercícios assimétricos de estabilização mostraram uma ativação simétrica dos músculos estabilizadores na presença de baixas cargas de exercício. Os músculos globais, porém, mostraram padrões assimétricos de ativação durante as mesmas atividades, sugerindo o seu papel de estabilizadores secundários e movimentadores primários.( DANEELS, 2001; E114-E121).

     Já Barr et al. [2] em seus estudos mostraram que o treinamento através de exercícios de estabilização foi mais efetivo que a manipulação, em termos de melhoria individual e recidiva das dores lombares.

(BARR, R. E.; WLIKMAR, N. L.;, 2003; 233-241).

     No experimento de Koumantakis [11] indivíduos com LBG recidivante de causa não específica receberam um programa de tratamento com exercícios gerais para o tronco e outro grupo recebeu exercícios específicos para estabilização segmentar. Ele concluiu que os dois grupos beneficiaram-se com o programa proposto, diminuindo sintomas instáveis devido ao descondicionamento da musculatura do tronco, sobretudo após o terceiro mês de treinamento. Mostrou também que os exercícios específicos beneficiaram principalmente indivíduos com sintomas grosseiros de instabilidade ou avantajada diferença assimétrica na ação do multífido.( KOUMANTAKIS, G. A.; WATSON, P. J.; OLDHAM, J. A ; 2005; 209- 225).

     A proposta do estudo de Vezina [30] foi quantificar e comparar amplitudes eletromiográficas da musculatura abdominal e extensora do tronco durante a realização de exercícios terapêuticos usados no tratamento da lombalgia. O seu resultado mostrou que uma pequena porcentagem da contração isométrica máxima voluntária da musculatura estabilizadora do tronco é importante para o treinamento da musculatura dinâmica.( VEZINA, J. M.; HUBLEY-KOZEY, C. L; 2000; 1370-1379).

     McGill et al. [19] procederam a uma coleta de dados referentes à resistência isométrica em indivíduos saudáveis realizando exercícios de flexão, extensão e ponte do tronco. Ao final constataram que o exercício de ponte lateral é ideal para estimular o quadrado lombar e os músculos da parede abdominal e assim aumentar a estabilidade vertebral com mínima sobrecarga.( MCGILL, S. M.; CHILDS, A.; LIEBENSON, C; 1999; 941-944).

     Lehman et al. [13] mostraram em seu estudo que para ativar os músculos reto abdominal e oblíquo externo podem ser utilizadas bolas suíças com treino de ponte em pronação e ponte lateral. O músculo eretor espinhal pode ser ativado com exercícios de ponte lateral.( LEHMAN, G. J.; HODA, W.; OLIVER, S.; 2005; 1-8).

    Hildenbrand e Noble [8] avaliaram a atividade dos músculos reto abdominal, oblíquo externo e reto femoral durante os exercícios de abdominal simples e com o uso de equipamentos como o Abroller, Abslide e Fitball. Os dispositivos utilizados para os exercícios abdominais não obtiveram altas atividades elétricas do reto abdominal comparadas aos dos abdominais simples. O uso do Abslide extraiu maior atividade do oblíquo externo do que os outros modos. O Abroller e abdominal simples envolvem significantemente menor atividade do reto femoral, indicando que menor flexão de quadril contribui ao exercício. (HILDENBRAND, K.; NOBLE, L. ; 2004; 37-43).

     Um outro estudo mais recente feito por Leena et al. [12], em que a estabilização segmentar foi associada à consulta médica, relatou maiores benefícios e diminuição da dor lombar crônica. (LEENA, N. et al., 2005; 1109-1115).

CASUÍSTICA


     O tipo de pesquisa relacionada ao artigo foi quali-quantitativa tendo como tratamento de dados a análise descritiva. Para atender aos objetivos propostos, foram investigados 12 professores de educação física que trabalham em academias de musculação da região central da cidade de Uberlândia-MG. Foram pesquisadas 12 academias da região central de Uberlândia por serem mais divulgadas e freqüentadas por alunos, no interior das quais se esperou encontrar os profissionais mais qualificados nesta área, que pudessem se constituir em uma amostragem significativa para a cidade. Os professores foram submetidos à aplicação de um questionário misto, composto por seis questões fechadas e abertas e uma fechada somente, elaboradas pelo próprio pesquisador, a partir do auxílio do orientador. O questionário aplicado continha perguntas referentes ao conhecimento do profissional de Educação Física sobre a lombalgia e a importância de saber prevenir para que os sintomas da lombalgia não aumentem e para que a musculatura lombar se torne mais funcional. Coube diretamente ao pesquisador a coleta dos dados, onde os sujeitos foram abordados diretamente em suas respectivas academias, conforme mencionado acima. Inicialmente foi explicado os objetivos da pesquisa e os professores foram devidamente orientados sobre o correto preenchimento dos questionários. Aos sujeitos foi solicitada a resposta no momento da entrega do questionário, para que pudéssemos ter uma margem mais representativa e não se corresse o risco de não receber posteriores respostas. Para a análise dos dados, foi considerado a totalidade das respostas, tendo sido estas analisadas separadamente a partir da estatística das respostas apresentadas.


APRESENTAÇÃO DOS DADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS



      Na primeira questão, quando interrogados sobre o fato de possuírem conhecimento sobre o que é a dor lombar, todos os professores responderam sim, evidenciando ser esta uma informação conhecida por todos os sujeitos.

     Em seguida, quando indagados sobre o fato de realizarem uma avaliação prévia nos alunos iniciantes, todos os professores afirmaram aplicar uma avaliação inicial em seus alunos, no entanto, em sua grande maioria, não souberam justificar nem tampouco explicar o caráter desta avaliação. Este fato pode nos trazer indícios de que pouca ou nenhuma avaliação prévia relacionada a lombalgia é realizada.

      Acreditamos que seria importante aplicar uma ficha de anamnese para dor lombar durante a avaliação física do aluno para que o professor perante as respostas possa identificar se o aluno tem ou não dores lombares, para que posteriormente o professor possa realizar o exercício passivo de estabilização segmentar vertebral, através do trabalho de ativação e controle motor do músculo transverso do abdome (mantém a pressão interna do abdome, mantem a coluna ereta), reto abdominal (faz flexão do tronco) e multífido lombar (alem de promover a extensão do tronco esse músculo proporciona estabilidade posterior para coluna vertebral, tendo também importância na flexão de tronco) na coluna lombar

     Na questão número 3 todos os professores que foram interrogados nas academias responderam que prescrevem um programa de exercícios com características específicas, porém nenhum soube explicar com detalhes qual programa de exercícios eles prescrevem, sendo que 2 responderam que passam o exercício de mesa flexora deitado para alunos com dor lombar, e 2 responderam que passam o alongamento para alunos com dor lombar e 1 respondeu que passa o exercício com prancha abdominal.

     Na mesa flexora deitado é possível contrair os músculos inferiores, Bíceps da coxa (cabeça longa e curta), semitendinoso, semimembranoso, e gastrocnémio, portanto não contrai nenhum músculo da região lombar. Por definição, alongamento é o nome dado ao exercício para aumentar a flexibilidade dos músculos, então não se pode fortalecer um músculo com alongamentos. Alongar-se entre as séries libera ácido lático e permite a entrada de bons nutrientes, aumentando sua energia para a série seguinte. Na prancha abdominal o indivíduo contrai os músculos reto abdominal (flexão de tronco, tensiona a parede anterior do abdome e abaixa as costelas), reto femural, oblíquo externo e tensor da fáscia lata, mas além de inclinar o tronco ultrapassando 20 graus, de baixo pra cima o movimento força muito a coluna lombar sem fortalecer os músculos multífidos mantendo a instabilidade vertebral lombar.

      Na questão número 4, 10 professores que foram interrogados nas academias responderam que já utilizaram, com seus alunos, algum aparelho de academia para prevenir dor lombar, porém 1 não justificou, 2 não souberam responder( passariam exercício de agachamento com pouca flexão de perna, 2 responderam que utilizam o exercício de mesa flexora deitado, 1 respondeu que usa banco romano, puxador vertical frontal, abdominais e alongamento passivo e ativo, 2 responderam que passam o exercício extensão de tronco, 1 respondeu que usa o aparelho banco romano, 1 enviou para o médico, 1 não utiliza nenhum aparelho.

      No exercício de agachamento o aluno contrai o quadríceps (vasto lateral, reto da coxa, vasto intermediário e vasto medial), glúteo médio e glúteo maior sem contrair nenhum músculo da região lombar. No aparelho banco romano, o exercício é realizado em decúbito ventral e tem como finalidade principal o trabalho dos músculos bíceps femoral, semitendíneo, semimembranáceo e gastrocnêmio. Contudo, durante a execução deste exercício, embora vise desenvolver a musculatura posterior da coxa, ocorrem alterações na angulação da coluna lombar pela necessidade de recrutamento da musculatura da região lombar e pélvica, provavelmente em conseqüência da elevada sobrecarga que deve ser vencida. Esse aumento de curvatura provocado pela extensão já pode ser visto como uma predisposição a lesões ou desconforto nesta região, já que a dor articular é com freqüência piorada por posturas e posições assumidas, nas quais as superfícies articulares são aproximadas. O puxador frente apresenta maior ativação do grande dorsal, devido ao fato de que este exercício envolve uma adução e extensão da glenoumeral, trapézio (parte transversa e ascendente), o rombóide, o bíceps braquial e, com menor intensidade, os peitorais. Durante a extensão do tronco, os eretores da espinha também participam, porem a dor continua.

      Na questão número 5, 8 professores que foram interrogados nas academias responderam que tem conhecimento dos músculos a serem trabalhados para prevenir dor lombar, porém 1 respondeu que se tratava dos músculos dorsais, com ênfase lombar e região abdominal, 1 respondeu que se tratava dos paravertebrais, lombar, abdomem, 4 não tem conhecimento, 1 respondeu abdominais, eretor da coluna e dorsais, 1 respondeu abdômen em geral, lombares dentre outros, 1 respondeu dorsais e abdomem, 1 respondeu abdomem, lombar, 1 respondeu área central, lombar e inferior, 1 respondeu músculos dorsais, posterior de coxa e abdomem (músculos superiores).

      De acordo com a revisão de literatura, os músculos a serem trabalhados na prevenção de dor lombar são o reto abdominal, transverso do abdomem, oblíquos e multífidos, portanto acreditamos que as respostas obtidas não estão totalmente esclarecidas já que alguns professores não souberam responder o nome exato dos músculos estabilizadores da coluna lombar.

     Na questão número 6, 3 professores que foram interrogados nas academias responderam que 40% à 60% dos alunos que freqüentam a academia apresentam dor lombar, 9 professores que foram interrogados nas academias responderam que 10% à 30% dos alunos que freqüentam a academia apresentam dor lombar, no entanto nenhum dos professores se mostrou apto a justificar a porcentagem.

      Na questão número 7, 8 professores que foram interrogados nas academias responderam que após a aplicação de exercícios específicos, os alunos saem da academia com ausência e/ou diminuição de dor, 1 marcou a alternativa (outros) especificando que 85% saem com ausência de dor e outros 15% necessitam de exames específicos e tratamento com fármacos, para posteriormente começarem a executar treinamento acompanhado com laudo médico, 1 marcou a alternativa (outros) especificando que normalmente sim, pois o aluno procura exercícios que possam estar causando essas dores caso ele esteja executando de forma incorreta, 1 marcou a alternativa (outros) especificando que com tratamento, alongamento a dor lombar se torna ausente, na maioria das vezes isso não acontece, pois depende se foi afetada alguma estrutura da coluna.



CONSIDERAÇÕES FINAIS



     A partir dos resultados obtidos pudemos comprovar nossas hipóteses iniciais. Embora demonstraram interesse pelo assunto, suas respostas não foram condizentes com este pensamento, pois não souberam apresentar conhecimento sobre o assunto capaz de orientar uma prática pedagógica eficaz no tocante a esta temática, ficando suas práticas restritas ao conhecimento do senso comum e sujeitas às restrições que o mesmo acarreta.

    Sendo assim, temos indícios claros que nos permitem inferir que os professores carecem de muito conhecimento sobre as causas da lombalgia e assinalamos que os mesmos precisam reciclar seus conhecimentos através de novas referências dos exercícios de estabilização vertebral.

    Nesse sentido, acreditamos que os educadores físicos das academias pesquisadas em Uberlândia necessitam se atualizar mais nos estudos sobre exercícios estabilizadores das vértebras lombares no sentido de poderem oferecer uma melhor orientação a seus alunos, pois geralmente é nas academias que eles desenvolvem esses problemas por conta de exercícios executados erroneamente, e às vezes sem uma instrução adequada. Seguindo o referencial teórico de (McGill, 2003), e considerando os resultados deste estudo, podemos sugerir, como possibilidade de formação continuada, um programa de exercícios para pessoas com lombalgia, o qual se encontra anexado a este trabalho.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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COX, J.M.; Dor Lombar: Mecanismo, Diagnóstico e Tratamento. 6ª ed. Manole: São Paulo,2002.

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HIDES, J. A.; STOKES, M. J.; JULL, G. A. COOPER, D. H. Evidência de Atrofia do Músculo Multifidus Lombar Ipsilateral aos Sintomas em Pacientes com Dor Lombar Aguda/Subaguda. Spine 19(2): 165-172, 1994]

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MAHER, C.G. et al. The effect of motor control exercise versus placebo in patients with chronic low back pain. BMC musculoskeletal disorders, 2005; 6 (54): 1-8.

McGILL, S. Exercícios para a região lombar: prescrição para as costas sadias e recuperação. In: Manual de pesquisa das diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. American College of Sports Medicine. Ed Guanabara-Koogan, Rio de Janeiro, 2003.

SAHRMANN, S. A. Diagnósticos e Tratamento das Síndromes de Disfunção Motora. São Paulo: Santos, 2005.

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[1] Acadêmico do Curso de Educação Física do Centro Universitário do Triângulo – UNITRI. E-mail:


[2] Orientador, Professor do Curso de Educação Física do Centro Universitário do Triângulo - UNITRI



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ANEXO 1




Exercício passivo de estabilização segmentar vertebral (McGill, 2003).



Eu vou prevenir para regredir os sintomas e para que a pessoa se torne mais funcional possível! Tudo no dia a dia que faço como sentar, cair, levantar, uso os músculos de fibra vermelha (responsável pelo movimento rápido), os músculos de fibra superficial predomina fibra rápida, portanto vamos exercitar os músculos de fibra rápida.

1o - Colocar dois dedos na crista ilíaca

2o - Usar comando de voz (pedir para o aluno torcir)

3o- Multífido com transverso forma uma cinta muscular ao redor da coluna lombar

4o- Importante mentalizar a contração (exercício neuromuscular)

5o- Usar comando de voz (contrair como se estivesse prendendo o xixi e contrair o ânus)

6o- Apalpar a crista ilíaca e colocar os dedos no lado do umbigo para dentro (reto abdominal)

7o- Contrair no final da 3aexpiração soltando o ar devagar (o professor vai contar até 7)

8o-

- 1ª fase (Realizar o exercício 3 vezes (contrair o transverso abdominal na terceira expiração)

- 2a fase (manter o transverso contraído e usar comando de voz – respirar tipo cachorrinho)

9o – Elevar o umbigo em direção a coluna lombar

- 1ª fase (Achar a L4- vértebra lombar 4, apalpando a crista ilíaca)

- 2a fase (Traçar uma linha imaginária da crista ilíaca até a vértebra lombar 4)

-3a fase (Achar o músculo Multífido, apalpar e ver qual músculo está mais fraco, direito ou esquerdo, e dar ênfase no mais fraco usando o comando de voz – levanta levemente o tronco, contraír o transverso e empurrar com a contração meus dedos que estão pressionando levemente o músculo multífido mais fraco, (observação:lembre-se que esse exercício é neuromuscular, portanto é preciso mentalizar o músculo que quer contrair).

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ANEXO 2

QUESTONÁRIO



1- Você sabe o que é dor lombar?

( ) Sim

( ) Não



2- Quando você recebe um aluno na academia, é realizada alguma avaliação prévia do mesmo?

( ) Sim

( ) Não

( ) Às vezes (somente em alguns casos específicos...)

Justificar_______________________________________________________________________________________________________________________________________________



3- Ao receber um aluno com dor lombar, você prescreve um programa de exercícios com características específicas?

( ) Sim. (Descrever sinteticamente as características do programa)

( ) Não.

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4- Já utilizou, com seus alunos, algum aparelho de academia para prevenir dor lombar?

( ) Sim. Qual(is)?

( ) Não

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5- Você tem conhecimento dos músculos a serem trabalhados para prevenir dor lombar?

( ) Sim . Quais?

( ) Não



6- Dos alunos que freqüentam sua academia, qual o percentual médio de alunos que apresentam dor lombar?

( ) 0% à 25%

( ) 26% à 50%

( ) 51% à 75%

( ) 76% a 100%

( ) Não tenho o controle sobre esta informação





7 – Considerando o grupo de alunos com dor lombar, após a aplicação de exercícios específicos, os alunos saem da academia com ausência e/ou diminuição de dor?



( ) Sim .

( ) Não.

( ) Outros (especificar)________________________________________________________

Atenção: Proibido cópia sem referência aos autores

Referência:

BICKEL, R.M; SOUZA, M.J. Atuação do Profissional de Educação Física na Prevenção da Lombalgia. 2009. 19f.  Trabalho Acadêmico ( Curso de Graduação em Educação Física) do Centro Universitário do Triângulo - UNITRI, Uberlândia,2009.


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